quarta-feira, 4 de junho de 2008

Pregões de Lisboa



“Ainda não vão longe os tempos em que nos chegavam à porta produtos tão variados como o azeite, a fruta, o petróleo, o leite, o peixe e, por incrível que pareça, até mesmo a água (nos anos 30 do século passado, em alguns bairros antigos as pessoas ainda se serviam de água que era vendida pelos aguadeiros em barris transportados ás costas).

Os primeiros pregões terão surgido na Roma antiga. O pregão cantado nasceu mais tarde com a venda ambulante dos produtos.

Em Lisboa, os vendedores anunciavam os seus produtos com pregões. Quem não se lembra ainda de ouvir apregoar nas ruas de Lisboa. “Quem quer figos, quem quer almoçar?”, “Ai! figuinhos da capa rota!...”, “Pescada do alto!”, “Viva da costa!...”, “Carapau fresco!...”, “Quentes e boas!...”.
E tantos outros pregões em que os vendedores, com vozes afinadas, descreviam os seus produtos para atrair a clientela à compra.
Alguns desses vendedores utilizavam cestos muito curiosos, como é o caso da vendedeira de galinhas, que transportava à cabeça uma verdadeira capoeira com animais vivos.” (1)

E muitos outros pregões ecoavam pela cidade de Lisboa quando mal raiava a manhã.
Um deles, muito característico e muito cantado, era esperado por aqueles que tomavam um pequeno-almoço retemperador para o dia que tinham pela frente, era o pregão da “Fava-rica!...”.

Recordamos hoje uma das protagonistas desse pregão – Maria Inocência Neves (Colmeal, 6 de Julho de 1887 – Lisboa, 13 de Dezembro de 1969).

Teve cinco irmãos. Joaquim Francisco Neves, José das Neves (“Zé do quintal”), António Neves (que casou na Malhada), Manuel Neves e Maria Adelaide Neves.

Maria Inocência foi casada com António Domingos, que faleceu com apenas 28 anos. Teve três filhos: Arminda Neves Domingos Santos (1916-2006), António Domingos Neves (1913-1952) e Ilda Domingos Neves (1914-1917?).

A dona de uma das vozes deste antigo pregão de Lisboa ficará inevitavelmente ligada à vida da União Progressiva da Freguesia do Colmeal. Um dos seus irmãos, Joaquim Francisco Neves, foi um dos fundadores da colectividade e seu primeiro Presidente da Assembleia-Geral. Um dos seus filhos, António Domingos Neves, foi também um dos fundadores da União e dirigente bastante activo. O único neto de Maria Inocência, António Domingos Santos, dirige actualmente e desde Outubro de 1997 os destinos da colectividade.

Recordamo-la com saudade bem como aos outros familiares, todos já desaparecidos.

António D. Santos

(1) in “Receitas à Moda Antiga” – Selecções do Reader’s Digest (pág. 40)

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